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Série Escritores Ipuenses

Por: Raquel Lima Damasceno (Raquel Damali) – Acadêmica Cadeira 33

 

 

UMA AMOSTRA DO CONTEÚDO DOS FILHOS DO IPU E SUA GENTE

À SOMBRA DO TAMARINEIRO

(Autora: Maria Eunice Martins Melo Aragão)

Que livro suave! Uma escrita tranquila que vai apenas debulhando suas inspirações... e que inspirações!

O livro é um misto de prosa e poesia, uma poesia até musical.

Na prosa há momentos que autora e personagem parecem confundir-se, mesmo na história que se imagina que tenha ocorrido com terceiros...

Logo, no primeiro texto (A Moça da Montanha), a autora nos entrega a personagem que parece passear em algumas outras histórias do livro. É a moça apaixonada, a mulher abnegada, a senhora ensimesmada...

Na primeira parte a autora apresenta Contos, na segunda Crônicas e, na terceira parte Poemas.

Ouso comentar que adoraria ler mais contos da autora. Ela tem uma forma bem interessante de escrever as estórias que nos prende e entretém, como A Dama do Chapéu Lilás, por exemplo.

No conto O Preço da Felicidade, d. Eunice pondera sobre escolhas e o quanto algumas mulheres abriram mão em seguir em frente na profissão, não necessariamente por não conseguirem conciliar suas carreiras com a vida matrimonial, mas por serem impelidas a escolher. Ainda bem que, no conto, a escolha foi acertada para a personagem, embora para muitas mulheres escolhas assim possam ter sido um equívoco. Mas cada uma sabe de suas prioridades e onde está sua felicidade.

E o que dizer da instigante Menina do Riacho Verde... deixou marcas no lugarejo! Já em O Último Bolero a autora descreve o ocaso do que fora, em certo tempo, a promessa de um espaço elegante. Pelo menos seus idealizadores o nomearam como o intencionavam: Palacete de Iracema. Ainda vou querer ver as relíquias do Gabinete Ipuense de Leitura, uma das tentativas culturais que parecem ter sido descartada, como a autora sugere, devido o Ipu ser "uma cidade linda, mas sem memória"... espero que, pelo menos tentem preservar o linda, se levarmos em consideração sua natureza e evitar as tantas descaracterizações na estrutura da cidade.

Lamentos à parte, fica a satisfação de saber que, através do seu livro, a autora também colabora para a preservação da memória da cidade, decantando ruas e situações da cidade amada. Por sinal o Ipu é, nas entrelinhas de vários autores, a personagem principal, a musa inspiradora.

Tive a grata surpresa de encontrar, entre as crônicas, a descrição das mocinhas que eram antigas proprietárias da atual residência dos meus pais que, aliás, dizem que foi àquela residência que a  réplica da coroa de D. Pedro II foi exposta "representando" o monarca em sua visita (acho que o termo seria "virtual"), aos rincões das províncias.

E que alegria a minha ao encontrar um texto divertindo sobre Os Dramas... de uma forma ou de outra o Ipu sempre manteve um pesinho nas artes.

Em A Voz do Sino a autora relata um entrevero entre o Padre e o Sacristão. Haja picuinhas, rrrsss

Seus poemas são leves, como uma aragem a trazer-nos memórias de outras épocas... e, com elas, vêm imagens singelas: a lenha da fogueira; a casinha no sopé; as amigas da mocidade; a majestosa serra; a igrejinha; as homenagens as pessoas queridas; o amor as suas escolas, as lembranças dos pais; a passagem do tempo; as etapas do dia e os acontecimentos naturais; as perdas; o amor e as recordações infantis.

Claro que também está lá a icônica Canção das Tamarinas.

Seguem trechinhos do livro:

"...Aqui descobri o verdadeiro sentido da vida. Observo a ordenha das vacas e participo do cultivo das Laranjeiras e dos mamíferos, cujos frutos já começam a romper as flores brancas que foram fecundados... aprendi a ouvir o murmúrio do Riacho que corre ligeiro pelo canavial. Quanta felicidade o mundo está perdendo..."

...

 

"... A sua ironia era incomparavelmente cheia de inovações. Era responsável pelos leilões, quermesses e tudo o mais que se possa imaginar em termos de festa e de criatividade. Era prestativo e amigo verdadeiro. Gostava de criar situações interessantes e era um grande contador de "causos" e anedotas. Ele chamava o Boulevard de "Rua do Papoco" porque algumas vezes surgia uma confusão lá pras bandas das casinhas de taipa..."

 

...

"...Baixei os olhos e vi as minhas vestes superadas cobrindo o meu corpo mestiço. Quem sabe? Talvez tenha sido está à causa da suspeita e do medo daquela senhora tão linda..."

 

...

"...A noite era fria

não brilhava uma estrela

estava desfeita

por terra jogada

a fogueira encantada

da minha ilusão!..."

 

...

"...A tarde avança triste...

As nuvens estão paradas,

As árvores não se agitam,

As flores queda em silêncio

Das hastes desamparadas..."

...

 

"... Dia e noite a me acordar!

Toca o sino da Igrejinha...

O medo minh'alma invade...

Não deixem que a Igrejinha

Seja apenas a SAUDADE!..."

...

 

"Caminho da minha vida

aonde queres me levar?

Perdido neste degredo

onde guardo o meu segredo

onde me ponho a cismar..."

...

 

"...Lembrança de uma festa

na ladeira do "Careca

que eles foram e eu fiquei,

dormindo feliz da vida,

eles saíram e chegaram

e eu juro que nem notei..."

(nesses versinhos, a autora narra parte de sua estadia na casa dos seus tios, os meus avós, Tônia Melo e Chico Lima)

...

 

"... - Esta Adriana é uma louca,

falou com voz ressentida,

no lugar dessa boneca

eu queria era comida!

Olhei para a Adriana

que chorava sem cessar

porque a vida lhe pegava

o direito de sonhar."

...

 

"Ô, ô, ô, ô vento...

Ô, ô, ô, ô que sacode as tamarinas...

Vento que sacode as tamarinas

Que me fala da beleza

Que relembra a tristeza

De um amor que se acabou...

Vento vem varrer essa saudade

Quero aquele teu perfume

Que um dia se espalhou..."