Crônicas
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José Solon Sales e Silva

Titular da Cadeira nº 34

JASMIM DO CÉU

            Pelos idos da segunda metade do século XIX, moraram no Junco, depois Fazenda Campo Nobre o casal Francisco de Sales Ribeiro Campos e Ana Ribeiro Cordeiro de Sales Campos, tratada em família por Mãe Ribeiro. A casa da Mãe Ribeiro é notadamente de origem portuguesa em duas águas sendo uma para a frente e a outra para os fundos. Casa de cumieira muito alta, para refrescar o interior, do sol causticante do semiárido tamborilense.

            Francisco de Sales e Ana Ribeiro foram os pais de José Acrísio de Sales Campos, meu avô, que por sua vez era pai de Maria Farias Sales e Silva, minha mãe. Mãe Ribeiro, contava minha tia Beatriz que a conheceu e conviveu com ela muito tempo, era uma mulher bonita, elegante e zelosa. Gostava de cultivar plantas. Minha mãe também tinha este belo hábito e minha mãe também conviveu muito com sua avó paterna, talvez venha daí o hábito que tinha minha mãe de cultivar plantas. Tínhamos belos jardins em nossa casa. 

            Mas falando sobre o jasmim do céu como sempre conheci esta planta faceira e elegante a palavra jasmim se origina do persa “Yasmin” ou “Yasamen” que por sua vez é derivada do árabe “Yasamin”. O jasmim do céu é originário da África e provavelmente chegou nos sertões de Tamboril, levada por escravos.

            Seu nome científico é Plumbago capensis e o nome popular bela-emília ou jasmim azul ou dentilária, mas para nós sempre será o jasmim de céu como dizia minha bisavó que a cultivava em seu terreiro, ao redor da casa na Fazenda Campo Nobre. Contavam minha mãe e meu tio Joaquim que nos oitões da casa da Mãe Ribeiro o jasmim do céu fazia uma cerca viva e dependendo da incidência do sol o azul da flor era mais intenso e mais vivo. É de se imaginar como era o cultivo de tão bela planta em pleno semiárido, terra seca e esturricada com poucos recursos de água. Mas é sabido que esta planta é forte e se adapta muito bem ao sol escaldante além de florescer em ambientes somente com luminosidade.

            O jasmim é tido como o verdadeiro e o falso de vez que o verdadeiro tem perfume desprendido principalmente durante a noite. Já o dito jasmim falso é aquele que não tem perfume. O jasmim do céu não tem perfume, mas tem uma beleza ímpar. Queremos muito, mas tem razão o poeta popular, Pompílio Diniz quando diz em sua poesia ‘Invenção de Satanás’:

“Deus então fez um canteiro

De tudo quanto era flor

Nalgumas ele pôs cheiro

Noutras beleza e cor”

            O jasmim do céu tem efetivamente beleza e cor e para nós uma lembrança muito forte de quem conhecemos somente pelas descrições de minha mãe e de meus tios. Jasmim do céu para mim tem cheiro, cor e sentimento de pertença e eu, no meu humilde e exíguo espaço doméstico tenho meu vasinho com o jasmim do céu que traz à lembrança principalmente de uma das minhas bisavós maternas. E o céu certamente é azul!

Cocó, 04/08/2021.