Abílio Lourenço Martins
Titular da Cadeira nº 12 - Abílio Martins
Naturalmente, e, sem sentido, costumamos hierarquizar as profissões afirmando ser essa ou aquela de destaque, digna, enquanto outras, não.
Ora, todos nós fazemos parte de uma teia incondicional de afazeres como sustentáculo aos mais variados segmentos laborais. Caso contrário, não haveria sustentabilidade.
O que seria, por exemplo, do médico, do advogado, do empresário ou do político sem os seus assessores ou funcionários?
O que se percebe, infelizmente, é a existência de uma inexplicável pompa e o encanto desnecessário que muitos exercem para transparecer superioridade nos ambientes de trabalho. Fato este que irradia aos subalternos uma condição exagerada de respeito e inferioridade.
Diariamente, no final da tarde, ao me dirigir à academia, presencio um zelador, não mais de 30 anos, varrendo, dedicadamente, a calçada do prédio em que presta serviço.
Dou-lhe boa tarde costumeiramente. Ele, timidamente, quase sem levantar a vista, responde-me.
Hoje, ao passar na mesma calçada, presenciei esse zelador com a vassoura nas mãos, o celular colado ao ouvido, auxiliado pelo ombro, balbuciando baixinho e feliz, as seguintes palavras: “filha, o papai tá chegando. Ele te ama viu!”
Que doçura! que amor de palavras presenciei saindo da boca de um trabalhador simples, mas feliz.
Pensativo, fui caminhando e imaginando a alegria do encontro desse pai com a filha amada, levando, talvez, o básico do básico, para uma família simples, certamente, mas um lar feliz e rico de amor.
O que se deduz, diante do exposto, é que todo trabalho é digno quando exercido com amor e dedicação, sem ater-se a ambição ou aos interesses individuais. Infelizmente, não ocorre com certos “ricos” empresários e políticos, cujas fortunas se apresentam como discutíveis.
Ah, como eu queria, querido zelador, presenciar a tua chegada ao teu lar, e ver o teu rosto feliz, abraçando e recebendo o beijo imaculado da tua filha querida!
Que Deus abençoe você, seu trabalho e a sua família. É o que deseja este teu amigo desconhecido.
23 nov 2018