José Matias Costa
Titular da Cadeira nº 31
DISCURSO DE POSSE na Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes em 17/01/2020.
Senhora Presidente da Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes, Natália Maria Viana Soares Lopes.
Exma. Sra. Antônieta Peres Martins, Vice Prefeita de Ipu, também representando o Prefeito Carlos Sérgio Rufino Moreira.
Exmo. Sr. Ubiratan Diniz Aguiar, Ministro Emérito do TCU – Tribunal de Contas da União e Presidente Vitalício da Academia Cearense de Letras.
Senhoras acadêmicas, senhores acadêmicos.
Minha gratidão à acadêmica Lourdes Mozar que por motivo protocolar, gentilmente me conduziu até este auditório,
Meus familiares, Luiza de Marillac, minha esposa, João Matias Marinho Neto e José Luiz Rodrigues Matias, meus filhos.
Minhas senhoras e meus senhores.
Esta noite para mim é de grande significado, o que me impõe grande responsabilidade por estar ocupando nesta egrégia casa, a Cadeira de número 31 da Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes, cujo patrono é o ipuense Antônio Marrocos de Araújo.
É comum em nossa cultura as gerações passarem, e homens e mulheres, que foram faróis para seu povo, serem esquecidos. O anonimato das referências sociais prejudica o curso da história de um povo, produzindo graves consequências para as gerações futuras. A Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes vem se comportando diferentemente, quando traz para o “hoje” as memórias e o reconhecimento dessas pessoas, acendendo assim na consciência coletiva a identidade do município.
Não devemos fixar nosso olhar no retrovisor do passado, mas trazer para o presente o que foi e continua sendo importante, pois vem complementar positivamente o processo civilizatório, principalmente na sociedade contemporânea, fortemente marcada por tantos valores contrários ao padrão social. A soma da experiência passada com a criatividade presente geram bons resultados.
Há quatro anos que, como membro do Conselho Fiscal desta organização, escolhido que fui para representar a sociedade ipuense, venho observando alguns critérios adotados nos seus projetos, entre eles valorizar o que o Ipu tem de melhor. Parte da crítica acha que a Academia é elitista e ultrapassada. Não é verdade, pois aos eventos são convidados, através das mídias sociais e radiofônicas, todos que desejarem comparecer e na composição de seus membros, tanto dos Patronos como dos seus representantes temos um elenco do que foi e do que é melhor nos saberes e fazeres do município. O critério não é o poder, nem o dinheiro, porque se assim o fosse eu não estaria aqui. Ouvi várias vezes do nobre acadêmico, Professor Sebastião Valdemir Mourão: O Ipu, culturalmente está delimitado por dois tempos - um antes da fundação da academia e outro depois de sua existência. Este fato é bem perceptível, pois a cada ano cresce a produção de livros, tanto no campo literário, quanto na abordagem da história do município, e aqui sublinho: a publicação das obras históricas são de caráter cientifico e não apenas memorialista que também tem seu valor.
Ouvi recentemente em rede social a seguinte frase pronunciada por Zizi Carderari, jornalista, colaboradora da Revista Casa Cláudia e criadora do Estúdio Avelós:
Quando pintamos nossa aldeia ela se torna
Universal.
Pronuncio o que foi dito com outras palavras: quando fazemos aparecer os valores de nossa cidade, ela se torna universal, pois é a cidade, um pedaço do grande mosaico que é a universalidade.
Há dez anos, fui convidado por alguns acadêmicos para que me apresentasse para concorrer vaga nesta academia, o que não aceitei. Naquela época, meu entendimento de pertencer a um escol desta magnitude era bem diferente do que tenho hoje. Os anos vão passando e a universidade da vida vai iluminando cada vez mais nossa razão.
Passaram-se dez anos e novamente fui provocado a me candidatar a uma das cadeiras disponíveis desta Academia. Ainda hesitei até tomar minha decisão, talvez por minha timidez que é uma das minhas características psicológicas. Refleti e orgulhosamente decidi me candidatar a esta vaga que hoje passo a ocupar, atitude esta que me trouxe muita alegria. Para quem ama o conhecimento, aqui é o melhor lugar. A motivação não foi o título, a toga ou a medalha que são convenções, porém necessárias.
Desta vez não poderia deixar de aceitar o convite porque, se assim o procedesse, estaria sendo deselegante com pessoas de tanta expressão no cenário social, cultural e intelectual de nossa cidade, e aqui me refiro à Presidente Natália Maria Viana Soares Lopes, que tão bem geriu esta instituição por quatro anos, Sebastião Valdemir Mourão, meu ex-professor de linguística, e Raimundo Alves Araújo, historiador, que me viram e que tanto me incentivaram.
O poeta francês Paul Valery assim escreveu:
“elegância é a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado sutil de se deixar distinguir”.
Falo agora um pouco do patrono da cadeira número 31 a qual ocuparei a partir de agora, o ipuense Antônio Marrocos de Araújo: nasceu no início do século passado, em 1906, e era filho de José Assis de Araújo e de Francisca Laura Marrocos Araújo. Casou-se com Leonor Lima Marrocos Araújo, tendo cinco filhos e oito netos.
Passou sua infância e juventude na cidade natal, tendo começado em Fortaleza sua vida profissional no ramo de atividade securitária. Trabalhou na Seguradora Sul América, passando pela Equitativa, não só no Ceará como em Pernambuco. Em 1945 foi para Salvador (Bahia) onde como gerente da sucursal da Companhia de Seguros Previdência Sul ficou até 1949, quando se transferiu para São Paulo, exercendo o mesmo cargo até 1971.
Além de seu profissionalismo, o seu maior legado foi no campo da cultura, visto que entre suas virtudes pode-se destacar o amor ao conhecimento. Dedicou-se à formação de uma biblioteca especializada em literatura regional e história brasileira que tem sede em sua residência na Rua General Eloy Alfaro, 209, Vila Mariana em São Paulo. Podemos apresentar como sua produção intelectual a obra Coluna Prestes no Interior, publicada em 1982.
Quando da fundação desta nobre Academia, a cadeira que hoje ocupo foi assentada por Dr. Rogean Rodrigues Nunes, meu amigo, que por motivos profissionais teve que se afastar o que foi uma grande perda para nós.
Conforme falei anteriormente, é grande a responsabilidade de assumir esta cadeira, já que estou sucedendo uma das grandes expressões da medicina cearense e que se fosse apresentar toda a formação profissional, intelectual e produção científica de Dr. Rogean, talvez ocupasse tempo que ultrapassaria o estabelecido para ser falado nesta ocasião.
Dr. Rogean Rodrigues Nunes é graduado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará, Mestre em Medicina e Doutor em Cirurgia também pela Universidade Federal do Ceará com especialização em Engenharia Clínica pela Universidade de Fortaleza. É médico anestesiologista e Diretor Presidente, da Sociedade Brasileira de Anestesiologia, recentemente eleito.
Neste momento em que já quase encerro minha fala, agradeço ao Grande Arquiteto do Universo, que me permitiu estar aqui, aos meus diletos confrades, em número de treze, que democraticamente contribuíram com seu voto.
Minha gratidão também aos incentivadores maiores de meus estudos, meu pai João Matias Marinho, já falecido, minha mãe Antônia Costa Matias, recentemente falecida e a meu tio Raimundo Freitas, que me deu apoio em sua casa em Fortaleza, quando para lá me transferi, no final da década de 70, para cursar estudo superior.
Neste momento em que ingresso nesta academia, espero aprender muito mais, ter bom relacionamento com os confrades, que muito contribuirão para meu engrandecimento pessoal e intelectual.
Participar de qualquer instituição social gera compromissos e, assim sendo, procurarei contribuir com zelo e dedicação para que cada vez mais esta Academia cresça, e continue cumprindo sua tão importante função social.
Por fim, encerro as minhas palavras, conforme expressou o filósofo grego Sócrates:
“O início da sabedoria é a admissão da própria ignorância. Todo o meu saber consiste em saber que nada sei.”
Obrigado,