José Solon Sales e Silva
Titular da Cadeira Número 34
"Discurso proferido pelo Prof. José Solon Sales e Silva, em nome do corpo docente da Universidade de Fortaleza, aos alunos graduandos da Universidade, durante a solenidade de Colação de Grau do semestre 2002.2."
Caríssimos Formandos,
Honra-me sobremaneira falar em nome do corpo docente de nossa universidade para saudá-los neste momento de grande festa.
Hoje vocês concluem uma etapa de vida e em suas vidas ficará gravado o nome da Universidade de Fortaleza porque foi esta a instituição de ensino superior que cada um de vocês escolheu para sua formação acadêmica. Somos privilegiados por vivermos em um país que conta com a constituição cidadã e que nos propicia a liberdade de escolha e foi através dessa liberdade que vocês chegaram até nós.
Esboçando a grandes traços queremos reavivar em suas memórias que a universidade é um âmbito. A vida do homem se desdobra em diversos âmbitos que vão formando "seu" mundo, que não é um mundo limitado como o do vegetal que troca matéria e energia com o meio ambiente. É um âmbito propriamente humano, é um âmbito relacional, onde a pessoa pode abrir-se, transcender, ser cada dia mais pessoa. A universidade é uma comunidade de professores e alunos, esta é a ideia originária e originante da universidade, já citada pelo Papa Inocêncio II em 1208 em sua carta aos universitários de Paris. A mesma ideia se repetia nos escritos de Afonso X, o sábio, ao definir a universidade como um ajuntamento de mestres e estudantes, que unidos na busca de uma nova verdade ou aspecto científico ou de uma nova aplicação técnica, ou pelo menos no trajeto de um processo de busca da mesma, já realizada, nasce a UNIVERSITAS, a comunidade de amizade de professores e estudantes. O amor a verdade é o vínculo desta amizade, que constitui a comunidade universitária.
A universidade como instituição é fruto de um ordenamento de fins, funções, tarefas e recursos propiciando uma regência e convivência harmônica na vida comunitária.
A universidade também é um espírito que se manifesta no irredutível mistério do "logos". O "logos" é a palavra que manifesta verdade, portanto o saber. Se a universidade contemporânea não lograr manifestar o "logos" comum que faz inteligível a unidade do saber, está condenada a fragmentação que a levará a dissolução pela barbárie do especialismo. Esse é o risco de nossa cultura que hoje padece uma crise de fundamento e sentido pela perda de seus núcleos vertebral e orientador.
Buscar os verdadeiros valores de cada época, sabendo discernir entre aquilo que não muda por que é imutável, daquilo que deve mudar porque envelheceu, é tarefa própria da sabedoria humana. Esta tarefa se verifica no encontro de gerações oferecido pela universidade, âmbito onde confluem esforços para resgatar a verdade desde o vigor de uma inteligência sábia na experiência e desde o empenho de uma vontade sempre jovem para recorrer o árduo caminho que nos distancia dela.
Uma das fontes privilegiadas da cultura encontramos aqui, na universidade, é aqui onde nós professores e alunos cultivamos a verdade, recolhendo o fruto do ensino das gerações que nos precederam e semeando todo um repertório de respostas vitais apropriadas a nosso tempo.
E sobre este encontro de gerações que forma o último âmbito universitário precisamos lembrar que na última década do século passado foi tônica acadêmica na área da administração o estudo do empreendedorismo. Neste dia solene é premente cultuarmos a memória de dois grandes cearenses que tudo fizeram para estarmos hoje aqui reunidos nesta solenidade de colação de grau. Foram dois empreendedores de alçada; um na década de 50 e outro na década de 70. Refiro-me inicialmente ao 1º chanceler de nossa universidade o senhor Edson Queiroz, homem abnegado e que quis retribuir a confiança do povo cearense em seus empreendimentos oferecendo a sua geração e as posteriores uma universidade que atendesse a crescente demanda da juventude cearense na área educacional do ensino superior. Hoje, com 30 anos de existência continuamos a crescer sob a égide e a administração do nosso segundo chanceler, senhor Airton Vidal Queiroz, que a exemplo do pai, também é um visionário. O segundo cearense empreendedor, mesmo quando a escola administrativa ainda não existia, foi o professor Antônio Martins Filho que fundou a universidade Federal do Ceará em 1954 e que a pedido do chanceler Edson Queiroz colaborou diretamente na fundação de nossa universidade de Fortaleza. O professor Antônio Martins Filho, falecido a 20 de dezembro passado foi um baluarte do ensino universitário e uma das maiores eminências da pedagogia brasileira por ter traduzido em grandes gestos sua permanente paixão pelo magistério. "O Reitor dos Reitores" como era chamado é um dos Doutores Honoris Causa da nossa Universidade de Fortaleza.
Assim o corpo docente da Unifor presta uma merecida e devida homenagem a estes dois vultos sagrados da memória cearense e que o exemplo deles siga vivo em cada um de nós professores para que possamos sempre honrar o nome de nossa Universidade de Fortaleza.
Caríssimos Formandos, é fundamental conhecermos o nosso passado para vislumbrarmos o futuro. E, pelo passado de nossa instituição podemos augurar um futuro brilhante pois se nascemos sob a orientação de tão diletos homens, sem contarmos com tantos e tantos outras figuras ilustres que ajudaram e continuam ajudando a fazer a universidade, certamente seguimos na direção da luz.
Discute-se muito na academia a preocupação com o mercado de trabalho e o alinhamento da universidade com este mercado. No entanto, na condição de educador, penso que a universidade é antes de tudo uma instituição de formação de pessoas íntegras, éticas e competentes. E, quando formamos nesta perspectiva o mercado de trabalho, nestes tempos globalizados, certamente abrirá suas portas para os portadores destas virtudes. A Universidade deve preparar o homem não só para o mercado de trabalho, mas, sobretudo para a vida.
Enfim, para saudá-los recorro-me da competência, sabedoria e sensibilidade de uma grande poetisa que por si só é um exemplo de vida a ser seguido, pois iniciou-se nas letras já na maturidade da vida com quase 60 anos e deixou-nos um legado valoroso na arte da poesia. Refiro-me a grande goiana Cora Coralina e de sua obra destaco, para homenageá-los o poema
"Aos moços
O tempo muito ensinou.
Ensinou a amar a vida.
Não desistir da luta.
Recomeçar na derrota.
Renunciar a palavras e pensamentos negativos.
Acreditar nos valores humanos.
Ser otimista.
Creio numa força imanente que vai ligando a família humana numa corrente luminosa de fraternidade Universal.
Creio na superação dos erros e angústias do presente.
Acredito nos moços.
Exalto sua confiança, generosidade e idealismo.
Creio nos milagres da ciência e na profilaxia futura dos erros e violências do presente.
Aprendi que mais vale lutar do que recolher dinheiro fácil.
Antes acreditar do que duvidar."
Caríssimos formandos, procurem viver este poema a cada dia em suas novas vidas profissionais. No momento em que a maioria da população observar estes preceitos a humanidade estará em melhores condições de vida.
Nós acreditamos em vocês porque somos parte de sua formação. Não se deseja boa sorte aquele que sabe. Portanto, sejam felizes e tenham um bom desempenho na profissão que hoje iniciam a conquistar.
Obrigado.