João Rodrigues Ferreira
Titular da Cadeira Nº 18 - Patrono - José Itamar Mourão
Confrades e Confreiras, bom dia.
Dentre tantos grandes nomes da literatura brasileira, optei por Gonçalo Ferreira da Silva por duas razões: a primeira é por ele ser ipuense, fruto de nossa terra e de nossa gente; e a outra por ele ser um dos maiores cordelistas que este país já viu escrever e declamar. Portanto, merece que Ipu conheça sua história. E como tive o prazer de dividir o palco com Gonçalo algumas vezes, resolvi prestar-lhe esta homenagem registrando, em nossa Academia, um pouco de sua rica e longa história.
Poeta, contista, ensaísta, cronista e cordelista cearense nascido na cidade de Ipu, em 20 de dezembro de 1937, Gonçalo Ferreira da Silva é filho de Osório Ferreira da Silva e Francisca Gomes da Silva. Com 1 ano de idade teve uma forte bronquite, e com 4 anos teve poliomielite – era o mundo dizendo a Gonçalo que ele teria muitos desafios pela frente. No entanto, o menino superou as adversidades, mostrando ao mundo que tinha vindo a Terra para mostrar a sua força e grandeza.
Nasceu poeta, como ele mesmo diz, apenas esperou o tempo conveniente para começar a produção literária. Aos 9 anos de idade começou a cantar repente e tocar viola, e onde se apresentava arrancava aplausos de sua plateia impressionada com o poeta-mirim.
Aos 14 anos mudou-se para o Rio de Janeiro. E como grande parte dos nordestinos que chega à grande cidade, enfrentou muitas dificuldades, entre elas a falta de um lugar que pudesse chamar de seu. Certo dia, andando pela rua, Gonçalo caiu sobre uma calçada. Ao ser socorrido, o médico constatou que o rapaz não sofria de mal algum, apenas de fome. Um senhor chamado Zé Oscar deu-lhe abrigo, e Gonçalo ficou com esta família, que o colocou para estudar. E lá ele ficou até conseguir emprego.
Sua educação formal foi estabelecida na Cidade Maravilhosa, onde cursou o 1º e o 2º graus no Liceu Literário Português e graduou-se em Letras na PUC/RJ (1973). Na Fundação Casa de Rui Barbosa, o poeta se aprofundou nos estudos sobre cultura popular e, com a ajuda do pesquisador Sebastião Nunes, deu o pontapé inicial na produção de folhetos de cordel.
Aos 18 anos foi trabalhar na Rádio MEC, onde conviveu com grandes nomes da Literatura Brasileira, tais como: Carlos Drummond de Andrade, Raquel de Queiróz, Mario Lago, entre outros. Algumas fontes afirmam que ele permaneceu nesta rádio até se aposentar (Museu da Pessoa), porém a Enciclopédia Itaú Cultural afirma que ele foi funcionário da referida empresa de 1963 a 1978 e redator do jornal A Voz do Nordeste e da revista Abnorte-Sul de 1980 a 1988.
Em 1966 publicou seu primeiro livro, Um Resto de Razão (Edições de Ouro), e lançou o primeiro folheto de cordel, Punhos Rígidos. Seu poema Meninos de Rua e a Chacina da Candelária foi traduzido para o francês por Jean Louis Christinat, e o folheto biográfico Mahatma Gandhi, que recebeu cumprimentos da Embaixada e do Consulado da Índia, foi traduzido para o alemão e para o inglês, neste último idioma por Manoel Santa Maria.
Sua produção cordelística foi iniciada em 1978, enquanto realizava estudos sobre cultura popular, passando a frequentar a Feira de São Cristóvão. Com várias obras publicadas, versa sobre os mais variados temas: lendas, crenças, romances, política, biografias, cangaço, ciência, etc.
Este ilustre poeta recebeu influência de literatos memoráveis, como Augusto dos Anjos, Carlos Drummond de Andrade, Almeida Filho, Mario Lago, Rodolfo Coelho Cavalcante... Reconhecido, tornou-se imortal como membro de várias academias de letras estaduais: Academia Cearense de Ciências, Letras e Artes; do Cenáculo Brasileiro de Letras e Artes; da Academia Guanabarina de Letras e da Academia de Letras do Estado do Rio de Janeiro, da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (da qual foi fundador e presidente); Acadêmico Correspondente da Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes e Patrono da Cordelteca da mesma Academia (A Cordelteca foi fundada em 2019, pela Diretoria “Imortais são as obras”, e tinha como presidente a Professora Natália Viana).
No dia 22 de novembro de 2005 recebeu o Título de Cidadão Carioca na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro; em 2018, como Presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, recebeu a Medalha Tiradentes, concedida pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Em 2020 recebeu o Troféu Sereia de Ouro, concedido pelo Sistema Verdes Mares de Televisão, que, há 50 anos, homenageia personalidades cearenses, dos mais diversos setores, que se destacam e contribuem para o desenvolvimento do Ceará.
Autor de extensa obra em literatura de cordel, alcançando mais de trezentos folhetos, manifestada em riquíssima temática e iluminada por um vocabulário precioso e abundante, Gonçalo Ferreira da Silva incursiona por importantes áreas do conhecimento humano proferindo palestras e conferências, transmitindo conhecimentos canalizados ao longo de mais de meio século no universo das letras. Muitos dos seus trabalhos já foram vertidos para idiomas como o francês, inglês, alemão, espanhol, japonês, italiano e hebraico.
No dia 26 de setembro de 2011, foi convidado pela Biblioteca do Congresso Americano, através do Consulado dos Estados Unidos do Rio de Janeiro, para a abertura do simpósio A LITERATURA DE CORDEL HOJE. Ali, fez brilhante discurso, sendo amplamente aplaudido. Deu entrevista para a Rádio e TV locais (EUA) e participou da mesa de debates, onde fez ampla atualização da Literatura de Cordel do Brasil.
Na ocasião, lançou a Coleção Ciência e Versos de Cordel, despertando muito interesse e admiração. Entre os convidados, no referido lançamento, estavam o Embaixador do Brasil em Washington e o Presidente da Biblioteca do Congresso Americano, entre inúmeros personagens ilustres. A repercussão foi tamanha que, na volta ao Brasil, foi convidado para apresentar a referida Coleção em vários Institutos e Departamentos de Física do nosso País.
Em fevereiro do ano seguinte, foi convidado pela Embaixada do Brasil em São Tomé e Príncipe para fazer amplo trabalho de divulgação da Literatura de Cordel naquele país, e culminou com importante palestra no Auditório da Embaixada do Brasil naquela nação.
Gonçalo Ferreira da Silva é membro/fundador e ex-presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, fundada em 7 de setembro de 1988, com sede no histórico bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, e é responsável pela preservação do acervo da Casa de Cultura São Saruê, em Santa Teresa e um grande divulgador da Literatura de Cordel.
Gonçalo mora em Santa Teresa e é casado com Maria do Livramento Ximenes de Aragão, a Madrinha Mena, com quem teve três filhos: Marlos de Herval Lima da Silva, Rubens de Herval Lima da Silva e Jorge Luís de Herval Lima da Silva.
Fontes consultadas:
http://antigo.casaruibarbosa.gov.br/cordel/GoncaloFerreira/goncaloFerreira_biografia.html#
https://memoriasdapoesiapopular.com.br/2014/11/25/poeta-goncalo-ferreira-silva-sintese-biografica/
NOTA: Palestra/Discurso proverida pelo Acadêmico João Rodrigues, durante a reunião Ordinária da Academia Ipuense de Letras, Ciencias e Artes do mês de Fevereiro de 2022.