Francisco das Chagas Torres - Patrono da Cadeira nº 23
Eu agora vou contar
Um caso que foi passado
No município de Ipu,
Deixado o povo assanhado,
Um homem robusto e forte
Foi morto por um finado.
II
Esta história nos mostra,
Com toda declaração,
Que os mansos possuem a terra
Tendo de Deus a bênção,
Ficando por baixo dela
A casa do valentão.
III
A maior sábia do mundo,
Que conhecemos na história
Da vida material,
Foi donzela Teodora,
Sobre o sistema do homem...
Do que vou escrever agora.
IV
O que disse aquela donzela
É uma real certeza,
O homem ninguém decifra,
Pois tem toda a natureza.
Agora acabei de crer
Que todo homem tem destreza.
V
O caso que eu vou narrar,
Em Várzea Grande aconteceu,
A onze do mês de outubro
Senhor Tobias faleceu,
Assassinado por Totó...
A mesma vítima morreu.
VI
A vida de Totó de Souza
Conheci bem de pertinho,
Pois antes de ele nascer,
Seu pai era meu vizinho,
Morava na fazenda Tatu,
Junto a Fazenda Cantinho.
VII
Contava 18 anos
Este jovem destemido,
Nunca mostrou sua bravura,
Só depois de falecido.
Assim conta a testemunha,
Matou, já tendo morrido.
VIII
Por isso ninguém considere
Que existe inimigo somenos,
Os casos estão provando,
Sempre estão acontecendo,
Quem tira a vida dos grandes
Sempre tem sido os pequenos.
IX
Vou contar porque se deu
Este fato horrorizado,
Acabaram-se duas vidas,
Só por causa de um cercado...
São estes os acontecidos
Dos homens entusiasmados.
X
Senhor Tobias morava
Para os lados de Iguatu,
Veio casar-se com uma moça
Do município de Ipu,
Homem destemido e forte
Que não temia tutu.
XI
Questão pouca para ele,
Coisa que pouco importava.
Se Totó anunciasse matá-lo,
Pra ele pouco ligava.
Nunca pensou que sua vida
Por ele se acabava.
XII
No dia em que se avistaram,
Que para Totó falou,
Este que estava injuriado,
De nome lhe maltratou,
Marchando para Tobias,
Porém ele lhe atirou.
XIII
E foi um tiro certeiro
Que a garganta lhe varou,
Porém Totó, de repente,
De uma faca se armou,
Deu-lhe quatro punhaladas...
No mesmo instante expirou.
XIV
Quem era que esperava
Que um homem sem instrução,
Que nunca teve exercício,
Criado neste sertão,
Tirasse a vida de um homem
Instruído e de ação?
XV
Tobias era meu amigo,
Casado com minha prima.
Hoje eu lamento este caso
Desta sua triste sina,
Deixou a mulher viúva,
Criando duas filhinhas.
XVI
Totó, também, reconheço
Ser filho de um meu parente,
Paralítico, em uma rede,
Que muito a sua falta sente,
Como era conhecido,
Lutando com este doente.
XVII
Eu conheço camarada
Que, por se chamar Barão,
Pensa que nunca morre,
Querendo ser valentão...
É o nome mais infeliz
Que existe sobre um cristão.
XVIII
Eu também já fui perseguido,
Insultado por meu vizinho,
Porém Deus me favoreceu
De resistir tanto assim,
Pois hoje estou sossegado
Criando meus filhinhos.
XIX
Aconselho a meus parentes,
Que também são dos finados,
Que queiram ser humildes,
Pois estão muito injuriados,
Que por ter se convertido,
Pilatos foi perdoado.
XX
Também aconselho a todos,
Que são da minha opinião,
De resistir a essa mágoa,
Perdoando de coração,
Que por ter se arrependido,
Jesus salvou o Bom Ladrão.
XXI
Jesus perdoou Lunguinho
Que com um punhal o furou,
Era cego de nascença,
Neste momento enxergou,
Teve tanto arrependimento
Que até se santificou.
XXII
E que ninguém se glorie
Com miséria de ninguém,
Que o futuro é escuro
E ninguém sabe o que vem,
Devemos ser humildes,
A todos fazendo o bem.
XXIII
Nós todos somos sujeitos
A cair nesta tentação,
A nossa matéria é fraca,
Sem haver uma exceção,
Já vem de Adão e Eva,
Do começo da geração.
XXIV
Eu já dei o meu conselho
E aqui vou terminar,
Vem a peregrinação,
Vamos a Maria orar
Para rogar a Jesus
Para ele nos salvar.
XXV
Eu escrevi estes versos
Porque amo a poesia.
Se tomarem o meu conselho,
Jesus Cristo é quem os guia.
Custa apenas três cruzeiros,
Pagando a tipografia.
XXVI
Se o caso não se deu assim,
Queiram me desculpar,
Pois eu só conto o que vejo
Ou o que ouço contar,
Contou-me Francisco Assis
Que viu os homens se matarem.
XXVII
Francisco das Chagas Tôrres,
Este pequeno escritor,
Residente em Canto Alegre,
De onde é morador,
Que só sabe escrever versos
Com o nome do autor.